Texto feito para a Coluna SUPCULTURE da Revista Parafina (www.revistaparafina.com.br)
Além de ser é uma filosofia de vida, “Ser ZEN” está bastante à frente de nossos conceitos prolixos e ocidentais sobre este assunto, então, tiramos todo o universo que o rodeia e teremos simplesmente o contexto de fazer uma coisa de cada vez, fazer bem, com plena consciência, ou seja, coloque sempre a sua mente e seu corpo inteiramente naquilo que quer fazer, concentrando-se sempre no aqui e no agora. Esta filosofia acompanha grandes esportistas e a concentração é palavra chave para o sucesso deles.
Isso não é fácil é um exercício que deve ser ministrado em doses homeopáticas e evoluindo de acordo com grau de maturidade e disciplina do esportista.
O Surf como esporte de ação, por sua vez, é uma terapia completa, que tem tudo a ver com o assunto desta coluna, mas são coisas distintas, veja este exemplo: digamos que você tem um problema e vai surfar, a renovação de sua mente e relaxamento é imediata, a maioria dos esportes é assim, a injeção de endorfina do cérebro aumenta o bem estar e diminui o stress, isso é devido ao exercício aeróbico e no Surf você ainda tem outras vantagens perante outros esportes, porém, isso não tem nada a ver com o “Ser ZEN”.
Voltaremos ao passado, aproximadamente, uns 600 anos, e daremos de cara com um polinésio, com uma prancha de 5 metros de 200 quilos (sem quilha), feita de madeira maciça, que durante um evento religioso ele mesmo escolheu a árvore, cortou e a fez, por final, esta foi abençoada por um pagé de sua tribo.
O Objetivo deste Polinésio é atravessar uma arrebentação com ondas de 12 pés e remar uns 40 km para chegar a uma outra ilha e voltar a seu destino. Para provar sua devoção aos Deuses, ele teria que fazer o “He’e Nalu” ou seja “pegar onda” se arremessando e mostrando que é digno de ser um guerreiro de sua Tribo, dependendo de sua coragem e do tamanho da onda surfada ele poderia ser o Rei de sua Tribo. As únicas coisas que o acompanham é um remo, sua prancha mágica e uma atitude que conhecemos por ZEN.
Então, voltamos ao presente com o SUP (Standup Paddle) e a mesma relação de “Maná” (energia e concentração) que nosso amigo polinésio tinha em suas aventuras se repete nos dias atuais. Esta relação é uma profunda combinação entre SUP como esporte e ZEN como pessoa, fundamental para o aprendizado, evolução e diversão, sendo este fator de deveras importância quando o assunto é extrapolar limites.
Eu Particularmente já fui praticar SUP em um dia com bastante vento (momento de maior equilíbrio do remador) estava com uma prancha ótima, as condições de ondas estavam excelentes, porém minha cabeça estava longe, minha ansiedade pelo surf e meu bloqueio por causa do vento era tão forte e não conseguia me concentrar. Quantas vezes você já se falou: Hoje não é meu dia? Pois é, isso tudo estava relacionado à minha atitude mental negativa, o equilíbrio do SUP foi prejudicado, me tirando do foco e do grande objetivo que era a diversão, perdi meu dia.
É fato que o equilíbrio é tudo no SUP, mas aliado a pouca concentração, você não sai do lugar, o SUP parece muito fácil, é e não é, depende muito de iniciante remador e do seu controle emocional.
Faço oficinas de SUP com variados tipos de pessoas, e uma coisa que me impressionou foram pessoas que pela primeira vez conseguirem remar e até pegar pequenas ondas sem nunca ter surfado na vida, como pessoas que surfam há muito tempo, não conseguirem remar e nem ficar em pé.
Acredito que a criação da expectativa cria um bloqueio que prejudica o equilíbrio, ou seja, a pessoa pensa que é uma coisa e não é, mais uma vez a concentração é o segredo.
Vamos nos espelhar em nosso amigo Polinésio, ser ZEN, viver o momento, fazer nosso melhor, sentir a energia fluir na mente, no corpo (equilíbrio) e na natureza, pois o SUP tem uma relação intima com as forças do mar…em suma, se divirta e se sinta bem com isso.
MAHALO!
Flávio Ramalho
