A Obra de Bruce Brown o Longboard e a Cultura Surf – Parte I

Endless Summer II – Obra prima do surf mundial

Em meados de 1994, fui ao cinema assistir o filme “The Endless Summer II”, para mim, era inédito um filme de surf passar na telona em Fortaleza, o entusiasmo era geral, filas enormes no Iguatemi I e II (Quem lembra?).

 

 Para quem não conhece o filme The Endless Summer II, este é a seqüência do The Endless Summer de 1966, ambas dirigidas e com locução do lendário Bruce Brown, um dos papas dos filmes de cultura surf.

O filme/documentário conta a história de dois surfistas que viajam o mundo em busca de ondas perfeitas, as locações foram na Califórnia, França, Hawaii, África do Sul, Costa Rica, Austrália, Bali, Java e Alaska. Os protagonistas são Pat O’Connell (pranchinha) e Robert “Wingnut” Weaver (Longboard), além da participação especial de Mike Hynson e Robert August, protagonistas da primeira edição.

 O filme de Brown apresenta uma diversidade de modalidades (uma prévia de windsurfing e bodyboarding) além do Surf de pranchinha e pranchão, mas a grande sacada era enxergar o surf como uma cultura e não uma categoria, comum em alguns filmes de surf até hoje.

 No dia que o filme iria passar no cinema, os comentários eram variados, alguns falavam em montagem outros falavam em comédia, não me esqueço até hoje dos “Yoouhoouu!” e as gargalhas no cinema.

 O filme é exclusivamente mágico, ondas gigantes pairam na tela, perfeitas e intermináveis, as viagens (trips), as músicas inéditas e diferentes, os ídolos da época, como: Tom Curren, Tom Carol, Gary Lopes, Nat Young, Slater (no início da carreira), dentre outros, a história do surf, tudo que uma mente com sede precisa saber em tão pouco tempo, mas se posso falar em uma “virada de chave”, esta existe, foi quando Wingnut, fez um noise rider interminável na Costa Rica. Foi a primeira vez que ouvi um “Caaaarraaaalhoo!!!” em coro…incrível!

ENDLESS SUMMER 2, Robert ‘Wingnut” Weaver, Patrick O’Connell, 1994

 Ninguém acreditou que isso era possível, “- parecia que o cara tava voando!!” falavam. Esta era a manobra mais tradicional e clássica do longboard, o “Hang Ten”, para mim, foi um momento único “- Eu quero fazer isso ai!”. Então, tudo mudou; acredito que a maioria dos longboards que conheço, entraram no mundo do long vendo esta “nova” perspectiva de surf.

 Digo “nova” devido o Longboard retornar em grande escala no Hawaii, em meados de 1980/90, porém,  a cultura da pranchinha (surf tradicional/comercial) era quem prevalecia e as revistas nacionais nem tocavam no assunto, quem tinha a sorte de comprar uma revista “gringa” no aeroporto, apreciava as fotos das “super pranchas” em suas evoluções e ficavam impressionados com o estilo dos caras.

 Em pouco tempo a revista Hardcore começou a mostrar um mundo mais surf do que o tradicional, apresentando a cultura surf e os estilosos pranchões, em pouco tempo toda publicação de surf sempre tocava no assunto. Foi uma revolução.

 Agora, imagine a cabeça de quem só conhece filme de surf de fita VHS, emprestada de um amigo que trouxe de uma viagem, e na época só surfava de pranchinha ou bodyboard e não tinha noção nenhuma do que significa um longboard, nem sua essência e muito menos sua história, nem tinha idéia do que se é capaz de fazer com aquele pranchão, mas de uma coisa se tinha ciência, as pranchas eram muito caras e poucos a tinham.

 “O Longboard é um paradigma totalmente diferente, o negócio, é pura técnica, e não força. É indescritível a primeira vez que se caminha sobre uma prancha dessas”.

 O surf de longboard já foi e ainda é alvo de muitos preconceitos no mundo do surf, o mesmo se repete com o Stand Up Paddle, Kite, Wind, Retro e Bodyboard, ninguém nunca agrada,  devido à visão retrograda de uma meia dúzia de caras que se dizem surfistas e não sabem nada de cultura surf e muito menos do que ela representa, embora esse preconceito ter diminuído, ele ainda existe, talvez devido a ignorância ou pura arrogância.

 O filme “The Endless Summer II” é a resposta do que significa toda esta filosofia de vida, o equilíbrio e felicidade que todos buscam , como o “verão sem fim”.

 Este post é dedicado a “Bruce Brown” e a sua obra e a forma que estas influenciaram gerações de surfistas no mundo todo.

 Vejam: www.brucebrownfilms.com

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